Sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes, isto é, como princípio que gera e estrutura as práticas e as representações que podem ser objetivamente “regulamentadas” e “reguladas” sem que por isso sejam o produto de obediência a regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem que se tenha a necessidade de projeção consciente deste fim ou do domínio das operações para atingi-lo, mas sendo, ao mesmo tempo, coletivamente orquestradas sem serem o produto da ação organizadora de um maestro.
BOURDIEU, P. Equisse d’une théorie de la pratique. Gèneve: Liv. Droz, 1972.
Sistema de disposições adquiridas pela aprendizagem implícita ou explícita que funciona como um sistema de esquemas geradores, é gerador de estratégias que podem ser objetivamente afins dos interesses objetivos de seus autores sem terem sido expressamente concebidas para este fim. A teoria do HABITUS visa a fundar a possibilidade de uma ciência das práticas que escape à alternativa do finalismo ou do mecanicismo.
BOURDIEU, P. Algumas propriedades dos campos. In: BOURDIEU, P. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. Pp. 89-94.
A noção de habitus permitia-me romper com o paradigma estruturalista sem cair na velha filosofia do sujeito ou da consciência, a da economia clássica e do seu homo economicus que regressa hoje com o nome de individualismo metodológico. Retomando a velha noção aristotélica de hexis, convertida pela escolástica em habitus, eu desejava reagir contra o estruturalismo e a sua estranha filosofia da ação que, implícita a noção levi-straussiana de inconsciente, se exprimia com toda clareza entre os althusserianos, com o seu agente reduzido ao papel de suporte — trajer — da estrutura (...) eu desejava pôr em evidência as capacidades "criadoras", ativas, inventivas, do habitus e do agente (...) o habitus, como a palavra indica, é um conhecimento adquirido e também um haver, um capital (de um sujeito transcendental, na idealista), o habitus, a hexis, indica a disposição incorporada, quase postural. O poder gerado no habitus não é o de um espírito universal, mas sim o de um agente em ação: tratava-se de chamar a atenção para o "primado da razão prática" de que falava Fichte, retomando ao idealismo, como Marx sugeria nas Teses sobre Feuerbach, o "lado ativo" do conhecimento prático que a tradição materialista, sobretudo a teoria do "reflexo" tinha abandonado. (...) Parece-me, com efeito, que em todos os casos, os utilizadores da palavra habitus se inspiram numa intenção teórica próxima da minha, que era a de sair da filosofia da consciência se anular o agente na sua verdade de operador prática de construções de objeto.
BOURDIEU, P. The genesis of the concept of habitus and field. Sociocriticism, v.2, n.2, p. 11-24, dec. 1985.
Nas palavras de Bourdieu, habitus significa uma “estrutura estrutura e es-truturante”. Depositada no corpo humano (e não na “consciência do sujeito”), ela fornece regras práticas para a sua ação, que se desenrola então em particular, reproduzindo as estruturas sociais, conquanto seja importante observar que, sem especificar exatamente como, ao lado dessa memória que se perpetua, ele coloca uma inventividade do habitus, que, portanto, encarrega-se, não se sabe bem como todavia, da criati-vidade da ação. O habitus, assim, responde pelo pólo da ação, em grande parte pela memória social e, mais modestamente, pela criatividade e pela mudança social.
DOMINGUES, J. M. Teorias sociológicas no século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. 110p.
Interpretando Bourdieu, dir-se-ia que o “habitus” é como uma lei “imanente” depositada em cada ator social, desde a primeira infância, a partir de seu lugar na estrutura social. São marcas das posições e situações de classe. Segundo Bourdieu, o “habitus” é a mediação universalizante que proporciona às práticas sem razões explícitas e sem intenção significante, de um agente singular, seu sentido, sua razão e sua organicidade.
MINAYO, M.C.S. O conceito de representações sociais dentro da sociologia clássica. In: GUARESHI, P.A., JOUCHELOVITCH, S. (Orgs.). Textos em representações sociais. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1995. Pp. 89-111.